A síndrome de burnout, também conhecida como esgotamento profissional, se tornou uma preocupação crescente para trabalhadores e empregadores.
Este artigo oferece uma visão geral do conceito de burnout, quais são seus principais sintomas e como implementar estratégias eficazes de prevenção.
Veremos o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz sobre o tema e quais são os números atuais do burnout em diferentes contextos.
Esperamos que este conteúdo seja útil, tanto se você se identificou com algum desses sintomas quanto se lidera uma equipe.
Este Artigo Aborda:
- Síndrome de Burnout
- O Que é o Burnout, Segundo a OMS
- Quais São as Causas da Síndrome de Burnout
- Sintomas da Síndrome de Burnout e Como Reconhecê-los
- Esgotamento Profissional e o Trabalho Remoto
- Burnout no Brasil: Números que Espantam
- Como Evitar o Esgotamento Profissional e Como Intervir a Tempo
Síndrome de Burnout
A síndrome de burnout é um estado de esgotamento mental ou físico causado por sobrecarga de trabalho, uma sensação de “estar queimado”.
Embora o termo pareça recente, foi em 1974 que o psiquiatra Herbert J. Freudenberger abordou este conceito pela primeira vez, associando-o a uma sensação de fracasso e à sobrecarga de demandas excessivas de energia, recursos pessoais ou força mental por parte do trabalhador.
As primeiras pesquisas sobre a síndrome de burnout focavam em trabalhadores da saúde, mas o conceito evoluiu para abranger outros setores.
No início dos anos 1980, Christina Maslach e Susan E. Jackson apresentaram o Maslach Burnout Inventory (MBI) (Inventário de Maslach de Burnout), um instrumento de avaliação psicológica que incluía mais de vinte sintomas relacionados ao burnout ocupacional.
O relatório de Maslach e Jackson desenvolveu o conceito do burnout a partir de três dimensões distintas, considerando seus sintomas:
- Exaustão emocional: Cansaço e fadiga física, mental ou uma combinação de ambos. É a sensação de não conseguir dar mais de si aos outros.
- Despersonalização: Desenvolvimento de sentimentos, atitudes e respostas negativas, distantes e frias em relação a outras pessoas (clientes, pacientes, membros da equipe, etc.).
- Sentimento de baixa realização profissional e/ou pessoal: Caracteriza-se por uma dolorosa perda de motivação e uma sensação de fracasso no trabalho. Isso gera problemas de pontualidade, absenteísmo e evitar o trabalho de forma geral.
Atualmente, e desde maio de 2019, o esgotamento profissional faz parte da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID-11), que entrou em vigor em 2022.
O Que é Burnout Segundo a OMS?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout é um fenômeno ocupacional, uma resposta ao estresse crônico no trabalho que não foi gerenciado de forma eficaz.
A síndrome é definida em três dimensões: sentimentos de exaustão ou falta de energia e uma maior distância mental em relação ao trabalho. Isso se reflete em sentimentos negativos ou cínicos com o trabalho e na redução da eficácia profissional.
Segundo a OMS, o termo burnout se refere especificamente a fenômenos no contexto ocupacional e não deve ser usado para descrever experiências em outras áreas da vida.
Além disso, para caracterizar um quadro de síndrome de burnout, é necessário que:
- Seja consequência da exposição a fatores estressores no trabalho.
- Seja consequência na saúde da pessoa que venha do trabalho.
- No decorrer do trabalho, haja uma troca relacional intensa e contínua do trabalhador (trabalhador-paciente, trabalhador-usuário).
Quais São as Causas do Burnout?
Não existe um único fator causador do burnout, mas sim uma combinação de fatores que, em determinadas circunstâncias, culminam em um processo de esgotamento profissional no ambiente de trabalho.
Embora o fator principal que desencadeie esta síndrome esteja relacionado ao ambiente de trabalho e às condições laborais, a gravidade do burnout e sua ocorrência dependerão de diversos aspectos: características individuais do trabalhador, riscos associados ao cargo e fatores organizacionais.
Vamos explorar esses fatores com mais detalhes:
- Fatores de risco no nível organizacional:
Esses fatores estão ligados à estrutura organizacional, especialmente quando ela é altamente hierarquizada e rígida, à falta de suporte instrumental por parte da empresa ou ao excesso de burocracia.
Também contribuem negativamente que a participação dos trabalhadores seja baixa e que haja pouca ou nenhuma formação prática dos trabalhadores em novas tecnologias.
Adicionalmente, a falta de reforço ou recompensa e as relações conflitantes dentro da organização são agravantes.
- Fatores de risco relacionados ao cargo no trabalho:
A sobrecarga de trabalho, o desequilíbrio entre responsabilidade e autonomia, ou a falta de tempo para atender adequadamente usuários (como pacientes, clientes, subordinados, etc) aumentam a tensão no trabalho.
Ter uma carga emocional excessiva ou não ter controle sobre os resultados da tarefa também são fatores que influenciam.
- Fatores de risco relacionados às relações interpessoais:
As relações interpessoais têm impacto direto na sensação de burnout dos trabalhadores afetados.
Lidar com usuários ou clientes difíceis, com relações tensas ou competitivas entre os colegas, ter conflitos com eles ou a falta de apoio social e colaboração são aspectos determinantes.
- Características pessoais:
Algumas características pessoais que podem influenciar no esgotamento profissional são alto nível de altruísmo, idealismo ou empatia e a tendência ao superenvolvimento emocional.
Além disso, uma forte tendência ao perfeccionismo, a baixa autoestima ou ter poucas habilidades sociais que podem influenciar a síndrome.
Sintomas da Síndrome de Burnout e Como Reconhecê-los
Existem vários sinais de alerta que podem nos ajudar a identificar um possível caso de esgotamento profissional. Esses sintomas se manifestam de forma bilateral, aparecendo tanto no trabalhador quanto na própria organização.
Quais São os Sintomas da Síndrome de Burnout no Trabalhador?
As principais manifestações do burnout no trabalhador envolvem aspectos psicossomáticos, emocionais e que prejudicam suas relações pessoais em geral. Alguns dos principais sintomas são:
- Sintomas psicossomáticos: Cansaço, esgotamento, fadiga crônica, mal-estar geral. Alterações funcionais nos sistemas cardiovascular, respiratório, digestivo, nervoso e reprodutor, dentre outros. Alguns sintomas mais visíveis podem ser dores de cabeça, distúrbios do sono, problemas gastrointestinais, perda de peso, dores musculares e hipertensão.
- Sintomas de conduta: Absenteísmo no trabalho e uso excessivo de medicamentos barbitúricos ou estimulantes (como café, tabaco e álcool). Mudanças bruscas de humor, dificuldade de concentração, tensão constante sem conseguir relaxar.
Comportamentos de risco, aumento de comportamentos hiperativos e atitudes agressivas. - Sintomas emocionais: Esgotamento emocional, tristeza, distanciamento afetivo para auto-preservação. Sentimentos de culpa, ansiedade, irritabilidade, baixa tolerância à frustração. Sensação recorrente de solidão, impotência, alienação. Sentimentos de desorientação e depressão.
- Sintomas de comportamento: Cinismo, desconfiança, apatia, ironia em relação a clientes e colegas. Hostilidade e pouca disposição para verbalizar pensamentos.
- Relações interpessoais: Atitude negativa em relação à vida, deterioração da qualidade da vida pessoal. Conflitos familiares, com parceiros e amigos fora do ambiente de trabalho. Todo essa deterioração das relações interpessoais do trabalhador podem levar ao isolamento social.
Quais São os Sintomas da Síndrome de Burnout na Organização?
Por sua vez, também aparecem indícios claros da presença do esgotamento na organização. Líderes, gerentes e até os próprios colegas podem perceber o surgimento deste estado de burnout.
Alguns dos sintomas mais comuns incluem:
- Deterioração da comunicação e das relações interpessoais.
- Redução da produtividade, eficiência e capacidade de trabalho.
- Redução do compromisso, aumento do absenteísmo e abandono do trabalho.
- Desmotivação acentuada.
Além disso, pode-se perceber uma queda na qualidade dos serviços prestados aos clientes. Surgem sentimentos de indiferença e desesperança em relação ao trabalho, frequentemente acompanhados por um aumento nas reclamações de clientes ou usuários.
Esgotamento Profissional e o Trabalho Remoto
Embora o burnout tenha sido inicialmente associado ao setor de saúde, com foco no estresse enfrentado por médicos e enfermeiros, nos últimos anos a relação entre esta síndrome e o trabalho remoto ganhou destaque.
Nos últimos anos, com o aumento do trabalho remoto, as taxas de pessoas trabalhando de casa e sofrendo de burnout dispararam. Veja algumas estatísticas relevantes:
- Em 2023, 44% dos trabalhadores remotos relataram sentir-se esgotados no trabalho. Antes da pandemia, segundo um estudo da consultora Buffer realizado com participantes do mundo inteiro, apenas 23% dos trabalhadores remotos apresentavam sintomas de burnout.
- Ainda de acordo com o mesmo estudo, 22% dos trabalhadores remotos afirmaram ter dificuldades para desconectar-se do trabalho após o fim da jornada.
- Um estudo da Microsoft com funcionários do mundo todo revelou que 54% dos trabalhadores remotos sentem que seus empregadores não oferecem o suporte necessário. Além disso, o número de reuniões virtuais aumentou 148% desde o início da pandemia.
Se você deseja explorar mais sobre este tema, sugiro conferir confira essas dicas: 6 estratégias de gerenciar melhor um ambiente de trabalho híbrido.
Burnout no Brasil: Números que Espantam
Vamos nos focar um pouco no Brasil, um dos países com o maior número de casos de burnout diagnosticados, acometendo 30% dos trabalhadores.
A quantia anual de afastamentos do trabalho por burnout tem aumentado anualmente, chegando a 421 em 2023. Inclusive, este número aumento quase 1000% em uma década, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O país com a maior quantidade de diagnósticos de burnout é o Japão, onde até 70% da população é afetada pela síndrome. O Brasil vem logo atrás, em segundo lugar.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, o aumento dos diagnósticos é ocasionado por três fatores. Primeiro, há maior conhecimento pela população sobre o burnout, sobretudo devido ao reconhecimento da OMS do burnout como síndrome ocupacional.
Segundo, o nível de cobrança sobre trabalhadores em suas funções tem aumentado, resultando em pressão e estresse. Terceiro, há certa confusão por parte dos especialistas para identificar se o paciente sofre de burnout ou de outros transtornos relacionados ao trabalho.
Como Evitar o Esgotamento Profissional e Como Intervir a Tempo?
É muito mais fácil enfrentar a síndrome de burnout se ela for tratada em sua fase inicial. Segundo o próprio Ministério da Saúde brasileiro, é importante procurar apoio profissional nos primeiros sintomas para evitar consequências severas.
Inclusive, é comum achar que os sintomas iniciais de burnout são passageiros, já que surgem de forma leve. Por isso, amigos, colegas de equipe, superiores e familiares tendem a ser as pessoas a notar os sintomas, e desempenham um papel importante no diagnóstico.
É muito mais fácil enfrentar a síndrome de esgotamento profissional se ela for tratada em sua fase inicial. Segundo a psicóloga Alejandra Apiquian Guitart, em sua palestra xx, não apenas é importante uma detecção precoce, mas também desenvolver táticas de prevenção.
Algumas alternativas para prevenir o burnout, apresentadas por Alejandra Apiquian Guitart em sua palestra “A síndrome de burnout nas empresas” no Terceiro Congresso de Escolas de Psicologia das Universidades Red Anáhuac Mérida incluem:
- Fornecer informações sobre a síndrome de burnout, seus sintomas e consequências.
- Observar as condições do ambiente de trabalho e promover o trabalho em equipe.
- Desenvolver e implementar workshops sobre liderança, habilidades sociais, entre outros, direcionados a gestores de empresas e organizações.
- Realizar cursos de introdução e adaptação ao posto de trabalho.
Por outro lado, é essencial considerar que essa síndrome afeta muitas esferas da vida do trabalhador, indo além da área laboral. Nesse contexto, as intervenções devem abranger pelo menos três níveis importantes:
- Estratégias em nível individual: Estratégias que incentivem o desenvolvimento de técnicas para melhorar a adaptação do indivíduo às fontes de estresse no trabalho. Elas podem ser classificadas como:
- Técnicas Fisiológicas: Ajudam a reduzir o desconforto emocional e físico causado pelo estresse no trabalho. Exemplos: relaxamento físico, controle da respiração biofeedback.
- Técnicas Comportamentais: Visam capacitar o indivíduo para lidar melhor com problemas no ambiente de trabalho. Exemplos: treinamento assertivo, desenvolvimento de habilidades sociais. técnicas de solução de problemas e autocontrole.
- Técnicas Cognitivas: Buscam melhorar a forma como o trabalhador percebe e interpreta os problemas no trabalho e os seus recursos pessoais. Exemplos: reestruturação cognitiva e a Terapia Racional Emotiva
- Estratégias em nível grupal: Essas estratégias têm como objetivo fortalecer as habilidades sociais e o apoio mútuo entre os membros das equipes de trabalho. Elas ajudam a romper o isolamento e aprimorar os processos de socialização.
Para isso, são incentivadas políticas de trabalho cooperativo, integração de equipes multidisciplinares e reuniões em grupo.
O apoio social atenua os efeitos negativos das fontes de estresse no trabalho e aumenta a capacidade do indivíduo de enfrentá-las.
- Estratégias em nível organizacional: São um conjunto de estratégias que focam na redução de situações que geram estresse no ambiente de trabalho. Algumas ações possíveis incluem:
- Modificar o ambiente físico
- Reestruturar a organização
- Redefinir os papéis de cada cargo
- Ajustar políticas de recursos humanos
- Alterar outros fatores que possam influenciar negativamente
O objetivo é criar uma estrutura organizacional mais horizontal, onde a tomada de decisões não seja totalmente centralizada, oferecendo maior autonomia, flexibilidade nos horários, salários mais competitivos e melhores perspectivas de carreira para os funcionários.
Considerações Finais
A síndrome de burnout é um problema crescente que afeta milhões de trabalhadores ao redor do mundo. Entender suas causas é essencial para prevenir seus impactos.
Reconhecer os sintomas precocemente — como cansaço extremo, desmotivação e queda no desempenho — permite que trabalhadores e empresas tomem medidas antes que o esgotamento comprometa a saúde e o bem-estar.
Na era do trabalho remoto, as estratégias de prevenção e manejo do burnout são mais importantes do que nunca. Tanto os empregados quanto as empresas devem fomentar um equilíbrio saudável entre a vida pessoal e profissional, estabelecer limites claros e promover um ambiente de apoio.